Desafios para alcançar a igualdade de gênero no Brasil

20/05/2016 17:06

Causou muita polêmica o anúncio do novo ministério escolhido pelo presidente interino Michel Temer na semana passada. O ponto de maior discussão foi o fato de não haver nenhuma mulher entre os 23 nomes selecionados para compor o novo gabinete. É a primeira vez desde o governo de Ernesto Geisel (1974-1979), ainda durante a ditadura militar, que não há uma mulher à frente de um ministério no Brasil.

A situação chama atenção para um grave problema que a sociedade brasileira enfrenta: a desigualdade de gênero. Nas últimas décadas, as mulheres brasileiras conquistaram papel fundamental no mercado de trabalho, aumentaram o nível de escolaridade e ampliaram sua representação política, mas ainda há um longo caminho a percorrer quando se trata de igualdade de direitos em relação aos homens.

Veja a seguir cinco dos principais desafios que o Brasil precisa enfrentar para promover maior igualdade entre homens e mulheres:

 

1. Emprego e tarefas domésticas

A participação feminina no mercado de trabalho ainda é inferior em relação à masculina. Em 2015, o nível de ocupação das mulheres foi de 44,3%, enquanto que o dos homens chegou a 61% – o nível de ocupação é a proporção entre a população que trabalha e a população em idade ativa. O excesso de trabalho doméstico e a carência de serviços públicos como creche e transporte escolar tiram oportunidades de trabalho e renda das mulheres. Os homens, por sua vez, gastam menos da metade do tempo com afazeres domésticos em relação às mulheres e podem se dedicar mais à carreira profissional.

 

2. Salários

Apesar de terem um nível maior de escolaridade em todas as etapas de ensino, as mulheres continuam recebendo um salário inferior ao dos homens. Elas ganham, em média, 25,5% a menos do que os homens, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa diferença é ainda maior quando se compara apenas homens e mulheres com nível superior: o salário médio das brasileiras diplomadas corresponde a 62% da renda mensal dos homens com o mesmo nível de escolaridade, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

3. Cargos de alta gestão

Em boa medida, a diferença salarial deve-se ao fato de as mulheres estarem sub-representadas em áreas de alta tecnologia ou cargos de alta gestão, que têm remuneração melhor. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com dados até 2012, aponta que apenas 7,7% das brasileiras ocupavam algum cargo na diretoria executiva de grandes empresas.

4. Representatividade política

A participação feminina na política também é bastante desproporcional. No Congresso Nacional, as mulheres ocupam apenas 10% das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados e 15% das 81 vagas do Senado. Com a falta de representação feminina no legislativo, projetos e temas fundamentais para garantir os direitos das mulheres e a igualdade de gênero acabam prejudicados. Uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) tramita no Congresso para estabelecer cotas para mulheres nos Legislativos municipais, estaduais e federais (exceto no Senado). Essas cotas seriam de 10%, 12% e 16% nas três próximas eleições respectivamente.

5. Violência

feminicídio, que foi tema de redação da última edição do Enem, é o assassinato de mulheres motivado apenas pelo fato de a vítima ser mulher. Ele envolve fundamentalmente dois fatores: violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Em 2013 ocorreram 4.762 homicídios femininos – parte deles pode ser considerada feminicídio. Além dos assassinatos, as mulheres são vitimas de assédio sexual e de agressões – segundo o Ministério da Saúde, quase 150 mil mulheres precisaram de atendimento médico em virtude de violência doméstica ou sexual em 2014.

Fábio Sasaki | 19/05/2016. Guia do estudante